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O Veneno de Deus

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Meu nome é José, José Freitas Fernando Camelo de Freitas.

Eu estive aqui nesta cidadezinha à sul de lugar nenhum por mais de 300 anos, ninguém parece ter notado, apesar de tudo.

 

Eu nasci aqui mesmo, fui índio, Ia Ia era meu nome, um nome feminino, você pensa? Sim. Nunca disse que eu nasci humano, tampouco homem.

Eu era uma caminhante de peles, metamorfa, se preferir, nunca iria imaginar que meu sangue me seria roubado... O anjo foi o monstro que eu fui ver naquele dia.

 

Parecia interessante, um anjo, velho quando o mundo era novo.

Os humanos o chamavam de "A serpente", ele não pareceu uma serpente quando o vi pela primeira vez, pelo contrário.

Era charmoso como O Boto, olhos azuis como o céu da manhã, dentes brancos e perfeitos como se esculpidos nos ossos calcinados dos feiticeiros humanos que tentavam nos ameaçar. Asas vermelhas como se a gralha azul das tribos do sul houvesse sido banhada no sangue de dezenas de crianças virgens e inocentes.

Eu só soube quando era tarde demais, eu já havia aceitado o contrato.

Eu desejei saber, é verdade. Assim como aquela que chamam  de Eva. Meu desejo de descobrir me jogou fora de meu próprio paraiso. Tudo foi perdido.

As asas antes lindas do anjo se tornaram asas retorcidas de morcego, sua pele perfeita se tornou não menos aspera que a de uma cobra venenosa que espreita nas árvores. Seus dentes aparentemente esculpidos tornaram-se pontiagudos, seus caninos longos como presas venenosas. Mas seu veneno não estava nas presas, e sim na língua.

Seu dom de iludir e enganar sem sequer mentir uma única vez. Talvez, nesse aspecto, ele seja realmente um cobra.

Antes de ir ele me agradeceu, ele disse que meu sangue puro o manteria alimentado por 300 anos. Está quase na hora de ele voltar, por mais que eu o odeie, eu quero vê-lo de novo, e antes de ele ir, eu gostaria de saber do que ele foge.

Humanos dizem que ele, O Veneno de Deus, foge, na verdade, de si mesmo. Por ser um agente inconsciente dos planos de seu mestre, um Anjo que pensa em si como Demônio, A serpente nunca foi expulsa do paraíso, ao que parece. E foi ela que arrancou as próprias pernas.

 

Alguns anos depois, ele veio, igual à primeira vez que o vi, mas sem as asas.

“Onde estão suas asas”, eu perguntei.

“Seria tolo de minha parte mostrar minhas asas em um mundo de humanos, Lua.”, Ele me respondeu.

Um mundo de humanos? Não compreendi muito bem na época.

“Eu te esperei por três séculos, neste mesmo lugar”

“Eu sei. E fico grato.”

“Grato?”

“Seu suplício terminou, Eva.”, Ele pausou-se por um momento. “ Está na hora de você lembrar.


[Continua?]
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